Agnaldo fechou a porta atrás de si, jogou a chave na escrivaninha, tirou a bolsa tiracolo com seu notebook e coisas do trabalho e deixou sobre o sofá, enquanto caminhava corredor adentro.
-Guilherme! – gritou
-Ooou, to aqui – disse a voz que não se sabia de onde vinha.
Guina tirou o casaco e deixou no encosto do outro sofá. Foi subindo as escadas para o primeiro andar e olhou no banheiro: nada. Foi ao quarto e Guilherme estava lá, de cueca, como sempre fica em casa.
-Mas já tá assim? Te passo a rola aqui mesmo, moleque. Dá meu beijo aqui.
E beijaram um ao outro, desencostando a boca uma ou duas vezes e se olhando nos olhos. Era assim desde sempre.
-Que rola, mané. Olha a hora, vamos perder o bonde.
-Tá, cadê o resto das coisas? Tá tudo aqui? Camiseta, shorts, sunga, calça…
-Calça to levando uma só, não acho que vai fazer frio.
-Pegou a minha?
-Peguei. Cata as coisas do banheiro.
-Beleza.
Aguinaldo foi ao banheiro pegar os pertences – escova de dentes, pasta, shampoo, sabonete e afins – enquanto o filho pegava sua calça de moletom, só para que não passassem tanto frio caso a temperatura caísse. Nunca se sabe. Guilherme se vestiu.
-Aqui.
-Acho que não falta mais nada. Comeu?
-Comi, na empresa.
-Eu também.
-Então, bora!
Deu um tapa no pescoço do pai e pegou as duas malas para levar ao Jipe.
Na estrada, como sempre, o som foi ligado durante todo o trajeto, com Aguinaldo batucando Smoke On The Water no volante. O rock era mais uma das paixões comuns dos dois. Alternavam: quem estava no banco do passageiro ia com a mão na perna do que estava no volante, invariavelmente acariciando o pau do outro entre as coxas, isso quando não tiravam o short e seguiam viagem pelados na parte de baixo, fazendo graça com os motoristas de caminhão que passavam por eles e, de lá de cima da janela, viam Guilherme ou Aguinaldo punhetando um ao outro. A fome começou a bater e pararam num posto de gasolina com um restaurante em anexo.
-Caro pra cacete, mas vai esse mesmo – reclamou Guilherme.
-Queria tomar uma, se não fosse o volante.
-Quer tomar? Eu dirijo até chegar lá.
-Não, deixa pra quando chegarmos. – e entraram.
Comeram e saíram, nada de mais. A viagem seguiu por mais algumas horas como de costume, um com o pau do outro na mão. O livre acesso que tinham ao corpo do outro só se interrompia em público, pois não gostavam de correr esse risco de atentado ao pudor. Dentro de um carro, um ambiente que estejam sozinhos, em casa ou na casa de algum conhecido, se beijam constantemente. Ambos gostam e procuram o contato com o corpo do outro constantemente, assim como se vê em qualquer grupo, ou simplesmente, dupla de homens: tapas, apertões, beliscadas, mordidas e assim por diante, até algo que envolva o sexo. O que separa os gestos mais inocentes daqueles mais sexuais é o beijo. Aliás, foi assim que Guina e Gui transaram pela primeira vez, começando com um beijo. Enquanto não chegou o dia em que se beijaram, o contato entre eles era apenas em partes do corpo que podiam ser vistas na rua.
Chegaram ao hotel quando o sol já estava mais fraco, começando a se pôr no horizonte, e foram fazer check-in.
-Aguinaldo Gonçalves Bueno e meu moleque, Guilherme Gonçalves Bueno.
Foram ao quarto e soltaram as malas. Guina deitou na cama e cruzou os braços sobre o rosto. O tesão já subiu em Gui e ele foi abrir uma das malas. Pegou uma sunga azul da Adidas e segurou com a boca. Ajoelhou-se, tirou uma das botas Timberland que o pai calçava (como fazia desde que era pequeno), e meteu o nariz nela, aspirando fundo para o cheiro dos pés do pai entrar em seus pulmões. Depois, deixou a bota no chão, segurou o calcanhar e enfiou o nariz, desta vez entre os dedos, calçados com uma meia branca que ia até metade da canela. Cheirou o pé de Guina e tirou a meia, repetindo a mesma ação com o outro pé. Enquanto isso, apertava o pau duro dentro da bermuda. Subiu na cama, desabotoou a bermuda de Guina, abriu o zíper e puxou junto com a cueca. Passou a sunga pelos pés, subiu e, antes de vesti-la completamente em seu pai, segurou o pau dele e deu apenas uma chupada, como uma provocação. Ajeitou de lado e cobriu com o tecido gelado azul, que se esticou para guardar o volume do pau inteiramente.
Acariciou o saco do pai e levantou sua camisa:
-Vamos tomar uma banho de mar, vem.
Guina, que ficou imóvel observando o filho fazer aquilo, levantou, agarrou o garoto e deu um beijo de língua bem longo nele, que logo em seguida trocou de roupa e saíram.
Na praia quase deserta, deram uma corrida leve para se aquecer.
-Vamos dar umas braçadas ali para dentro?
-Vamos. – topou Gui.
Correram cerca de um quilômetro até o final da praia e voltaram um pouco. Pararam, tomaram fôlego e entraram na água.
-Boa ,né?
-Nossa, tá uma delícia.
-Vamos?
-Vamos!
-Tá com tesão? – perguntou Gui.
-Demais, respondeu Agnaldo.
-Vou te torar quando a gente voltar então.
-Beleza.
Apressaram as braçadas. Já começava a cair a tarde e logo a temperatura também cairia. Voltaram pro hotel e não se secaram.
-Só vou ali lavar. – disse Guina. Já venho.
Gui sentou, com a sunga molhada mesmo, numa poltrona na varanda enquanto o pai não voltava da preparação. Ficou observando os caras na piscina lá embaixo, no térreo do hotel. Não entendia muito bem a necessidade de uma piscina em um hotel em frente à praia. Preferia muito mais a natureza.
Sem a sunga, Aguinaldo chegou em Guilherme, apertou a coxa do filho e se debruçou na sacada, olhando na mesma direção.
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