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Uma Visita Inesperada

Publicado em setembro 29, 2021 por J. R. King
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Capítulo 1: A Nova Irmã de Carminho

Ela chegou aqui por volta das 6 da manhã, tocando a campainha feito uma desesparada. Até que Julião foi atender a porta. Quando ele a viu, disse ter tomado um susto. Não havia há anos, e não sabia como a sua filha havia mudado tanto nesse tempo. Mesmo assim, ficou surpreso com a sua visita. Tão surpreso estava ao ver a mala que ela carregava.

– É uma longa história, papai, preciso conversar com o senhor.

A primeira vez que a vi eu estava descendo às escadas até a sala. Observei entrar pela porta da frente aquela figura tão enigmática e ao mesmo tempo magnética. Cabelos loiros, curtos demais para o comum de uma mulher, e grandes demais para o comum de um homem. Sombrancelhas pretas, olhos amendoados, longos cílios, expressões delicadas em seu rosto e lábios finos. Aparentava ser mais velha que eu, deberia ter cerca de 20 anos. Em seu corpo havia o desenho de uma delicada mulher. As pernas finas, a pele alva, os longos braços, os pequenos e joviais seios. Tudo por debaixo de um short jeans e uma camisa cropped cinza.

Ela me viu, como eu também a vi. Com o olhar de instantânea curiosidade por minha pessoa.

– Esse é o Carmelo, filho da Dona Rosângela. Carmelo, essa daqui é a minha filha, Bárbara. – Nos apresentou seu Julião.

Eu desci as escadas em direção a bárbara, que me estendeu a mão para cumprimenta-la. Foi a primeira vez que senti o toque suave de seus dedos encontrando os meus.

– Prazer, Carmelo. Pode me chamar de Baby.

– Prazer. Pode me chamar de Carmelo mesmo, pois até hoje eu não descobri um bom apelido para o meu nome.

Ela deu uma risada leve de meu comentário.

– Que tal Carmen? Ou Carmo? Carminho talvez…

Antes que eu respondesse, seu Julião interrompeu nossa conversa.

– Deixa ele, filha, mas vamos conversar, o que você queria me contar.

Seu Julião levou Bárbara até a sala de jantar para conversar. Eu, voltei a seguir a minha rotina. Na verdade, eu já estava de saída para o colégio. Estava no terceiro ano do ensino médio. Em época de vestibular. Estudava bastante pois queria passar em Economia para a USP, então, mal pensei em Bárbara durante o dia, focado em meus estudos.

Quando voltei para casa à tarde, Seu Julião, Bárbara e minha mãe estavam todos sentados a mesa. Minha mãe pediu para que eu sentasse com eles, e assim eu o fiz.

– Filho, essa aqui é a Bárbara, filha do  Henrique. – Disse a minha mãe, ela chamava Seu Julião pelo seu primeiro nome, hábito esse só adotado por ela em relação a todas as pessoas que tinham algum contato com seu Julião.

– É, ele sabe, tia. Já nos conhecermos. – Disse Baby.

– Ai, que bom. – Continuou minha mãe. – Então, a gente conversou, e a Bárbara vai passar um tempo morando com a gente. Até as coisas com as mães delas se acertarem, não é, Bárbara.

– Isso mesmo, tia. – Bárbara falasse como se já conhecesse a minha mãe a tanto tempo quanto eu.

– E aí, a gente vai precisar que vocês dividam o quarto por um tempo. Só até as coisas, bem, se acertarem. Tudo bem, filho?

– Tudo bem. – Respondi. – Mas… Só tem um colchão no quarto.

– Ah, não se preocupe com isso – Respondeu minha mãe. – A gente já resolveu. O Henrique comprou um colchão hoje, e quando o cartão virar a gente vai comprar uma beliche pra vocês, pode ser?

– Bom, então assim, acho que tá tudo bem.

Bárbara colocou o seu braço sobre os meus ombros e me puxou para ela. Ela apertou a minha bochecha enquanto falava:

– Agora eu sou sua irmã, Carminho. Que tal, hein?

Minha mãe e seu Julião riram da cena.

– Ah, que ótimo que vocês já estão se dando bem. – Disse minha mãe – Agora, Bárbara, a gente precisa ajeitar suas coisas no guarda-roupa.

E assim, Bárbara e minha mãe subiram até o quarto para ajeitar suas coisas. O dia correu normalmente. Por volta das 22 horas, eu já estava deitado na minha cama, mexendo no celular, conversando com amigos. Bárbara chegou no quarto após tomar um banho, vestindo apenas um pijama de flanela. Ela deitou no colchão, olhou o celular um pouco e depois falou:

– Você sabe que eu não vou embora tão cedo né?

– Eu não ligo muito. Mas me diz, por que você veio pra cá?

– Eles não contaram mesmo né? Meu pai sempre foi assim, querendo fingir que as coisas não existem. Por isso ele se separou da minha mãe.

– O que ele finge que não existe?

– Eu! Há quanto tempo ele se casou com a sua mãe?

– Uns 2 anos.

– E você nunca soube da minha existência, não é mesmo?

– Pra falar a verdade, não.

– É porque ele finge que eu não existo. Me largou em Diadema com a minha mãe. E essa daí não finge que eu existo, mas pra ela seria melhor se eu não existisse mesmo.

– Nossa, que bad. Mas porque dessa briga toda?

Ela olhou para mim, com um sorriso debochado, como se não acreditasse que eu havia perguntado.

– Você é bem tapado, hein, Carminho. Não notou nada de peculiar em mim não?

Eu tentei olhar pra ela, ver algum detalhe que eu não tinha percebido. Em silêncio a estudava, sem saber direito aonde isso ia dar. Ela percebendo a minha dúvida se levantou, ainda com o sorriso sarcástico em seu rosto. De frente para mim, ela apalpou a sua virilha, que finalmente percebi o que ela queria dizer:

– Eu sou trans!

Capítulo 2

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1 - Comentário(s)

  • JR 28/12/2021 07:03

    Eu estava bem animado com esse conto,mas esse final me descepcionou completamente,perdi até o tesão.

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